As melhores séries e minisséries de 2019 para maratonar 6m693l


Chernobyl, Fleabag e Olhos que Condenam/Divulgação

Aproveite o marasmo do começo de ano e maratone já! 1h5y5t

 

 

 

Ao longo do ano a coluna resenhou o que de melhor surgiu na TV. Abaixo uma seleção super criteriosa das sete melhores séries ou minisséries que você não pode deixar de ver. A ordem é aleatória, porque todas são ótimas:

 

 

 

TERROR DOS BONS 713o3e

Uma família cheia de ressentimentos do ado. Filho mergulhado nas drogas, outra que desenvolveu pânico configurado em uma estranha que a assombra desde pequena, outra que desempenhou uma aversão pelo toque e assim vai, ando por um escritor que tenta exorcizar as questões do ado por meio da literatura e por uma obcecada pelo trabalho, incapaz de entender os filhos e o marido. Leon Tolstoi disse que todas as famílias felizes são parecidas; as infelizes são infelizes à sua maneira.

 

 

No caso da família protagonista de A Maldição da Residência Hill, da Netflix, a maneira de exercitar a infelicidade é bem peculiar. Shirley (Elizabeth Reaser/Lulu Wilson), Theo (Kate Siegel/Mckenna Grace), Nell (Victoria Pedretti/Violet McGraw), Luke (Oliver Jackson-Cohen/Julian Hilliard) e Steven (Michiel Huisman/Paxton Singleton) são cinco irmãos que cresceram na mansão Hill, a casa mal-assombrada mais famosa dos Estados Unidos. Agora adultos, eles retornam ao antigo lar e são forçados a confrontar os fantasmas do ado, após o suicídio da irmã mais nova.

 

 

Misturando sobrenatural com questões mal resolvidas, numa trama que mantém a tensão do início ao fim dos 10 episódios, a série é um achado para quem busca uma cada vez mais rara boa história de terror. Prepare-se para sentir muito medo. Destaque para o episódio 5, todo ambientando em um velório. E para o desfecho, muito bem amarrado.

 

 

 

 

 

INFERNO SILENCIOSO 1r55t

O grande trunfo que levou ao sucesso de Chernobyl foi o modo simples e didático sem ser chato que foi adotado tanto no roteiro quanto na direção. A personagem de Emily Watson, a cientista Ulana Khomyuk, por exemplo, representa dezenas de estudiosos que se envolveram na tentativa de salvar o que fosse possível do que ainda havia de vida no entorno da usina nuclear. A opção, acertada, foi uma forma de simplificar sem prejudicar a narrativa.

 

 

 

Chernobyl, até hoje é considerado o maior desastre nuclear da história. Estima-se que até hoje pessoas morrem em decorrência da explosão. A minissérie começa no trágico momento do acidente. O que se segue é o horror, a morte e a fraca reação do governo então soviético (1986) mais preocupado em esconder o desastre do mundo do que salvar vidas.

 

 

 

Ao final da minissérie, sabe-se que a estimativa de mortos é de milhares, mas para o governo soviético, foram apenas 31 mortos. Essa divergência, assumida até hoje pelo governo, levou os russos à negação. A TV russa já anunciou que vai produzir uma série para contar “a verdadeira história de Chernobyl”. Dada a ionalidade que envolve a questão para os russos e a mão pesada com que Putin mantém controle sobre os meios de comunicação, fica difícil imaginar que saia daí uma versão realmente fiel aos fatos.

 

 

 

 

 

 

RACISMO E INJUSTIÇA 5q4n3o

Quem assistiu filmes recentes como Histórias Cruzadas e Estrelas Além do Tempo deve ter ficado chocado com a forma como as negras eram tratadas ali nos anos 1950 e 1960, um sopro temporal se pensarmos na história da humanidade neste planeta. A impressão que se tem, ao fim dos filmes, é de que, ufa, enfim os estadunidenses se tornaram seres racionais e entenderam que a origem de brancos e negros é a mesma.

 

 

Ledo engano. Aí está essa minissérie ‘soco no estômago’ da Netflix, que já se tornou a mais vista do serviço de streaming, que comprova que nada aprenderam. Olhos que Condenam conta a história real de cinco jovens negros do Harlem que em 1999 foram injustamente acusados de estuprarem uma mulher no Central Park. Eles só foram inocentados em 2014, depois que evidências de DNA comprovaram que o grupo não estava conectado ao brutal crime contra Trisha Meili. O real estuprador teve de abrir a boca por livre e espontânea vontade porque parecia conviver bem com os tantos crimes que cometeu, mas não ou carregar a culpa de arrastar cinco inocentes para o inferno das prisões.

 

 

A diretora e ativista Ava Duvernay e um elenco brilhante conseguem dar humanidade tocante a história dos ‘cinco do Central Park’ como ficaram conhecidos. O foco no sofrimento deles contrastando com o serviço criminoso dos policiais, investigadores e a promotora pública é de causar náuseas de indignação no espectador. A forma como o preconceito permeia toda a história, inclusive com contribuição substancial da imprensa, revolta.

 

 

O caso aconteceu há 20 anos. À época, um empresário topetudo se meteu no que não foi chamado e torrou uma fortuna em anúncios na mídia pedindo a morte dos cinco inocentes. Hoje, Donald Trump, todos sabem, é presidente do País que condenou injustamente os cinco. Será que alguma coisa mudou?

 

 

 

 

 

 

O CUSTO DO POPULISMO 5x6x5n


Uma das histórias mais originais do ano, Years and Years, da HBO, acerta ao mesclar uma boa história de família, amor e amizade com bons toques do realismo fantástico que virou a geopolítica mundial.

 

 

 

A minissérie acompanha a trajetória da família Lyons ao longo de 30 anos. De modo ágil, os anos vão se ando e vamos descobrindo as transformações pelas quais o mundo a. A tecnologia muda vidas na mesma medida em que a política desanda de vez. Líderes populistas como Vivienne Rook (a fenomenal Emma Thompson) emergem aos borbotões e direcionam o mundo para o abismo.

 

 

 

Entretidos em suas idiossincrasias, os Lyons se revezam em almoços de domingo que fortalecem os laços entre os irmãos e a avó Muriel Deacon. Na TV, Vivienne aparece como somente mais uma líder política histriônica.

 

 

 

As mudanças geopolíticas começam a ser sentidas quando uma das irmãs, ativista política, é afetada por uma explosão na China. 

 

 

 

Daniel Lyons, eixo central da história, é um agente de imigração que se apaixona por um refugiado ucraniano e começa, com muita sutilidade, ele próprio a sentir o peso da mão do estado na sua vida.

 

 

 

 

Por uma vingança do ex-marido de Daniel, Viktor, o ucraniano, é deportado. A situação política se agrava e Daniel começa uma luta insana para poder viver ao lado do amado.

 

 

 

 

Cada um dos quatro irmãos Lyons vive um drama diferente que culmina, invariavelmente, em situações que barram em um estado cada vez mais repressor e intolerante. 

 

 

 

 

Quando se chega a 2029, o mundo está um caos e os campos de concentração que exterminaram milhões durante a 2ª Guerra Mundial parecem o que sempre foram: inspiração inconfessa para políticos doentios que usam do discurso fácil e, claro, populista, para ludibriar o povo enquanto implementam seus projetos de poder custe o que custar.

 

 

 

 

 

Acima de tudo, Years and Years é um alerta para o que pode estar por vir. Arriscaria dizer que é um alerta tardio, porque muita coisa que a minissérie sugere parece já estar acontecendo bem debaixo dos nossos narizes. 

 

 

 

 

 

 

HUMOR INTELIGENTE 61101f


Durante a 71ª Edição do Emmy Awards em setembro deste ano, a série britânica Fleabag conquistou seis importantes prêmios – incluindo melhor série cômica – e se tornou um dos maiores destaques da noite. Merecidíssimo. A série é, sem medo de errar, a melhor comédia que você vai ver neste ano.

 

 

 

São duas – e únicas, segundo sua idealizadora – temporadas disponíveis na Amazon Prime. Os episódios de menos de meia hora usam a agilidade para um roteiro preciso, afiado e muito engraçado.

 

 

 

A idealizadora a que me referi antes é Phoebe Waller-Bridge, que também estrela a comédia. Ela é a personagem título, uma mulher de 33 anos que disfarça os dramas de sua vida profissional fracassada com muito sexo e tiradas imperdoáveis sobre sua família. Não é só sua vida profissional que está se derretendo. Ela perdeu a melhor amiga, seu namorado dramático está agora de vez indo embora e seu cunhado a beija num impulso repulsivo, tornando a relação com sua irmã ainda mais complicada.

 

 

 

É,a  vida de Fleabag está ruim, mas ela não está nem aí para isso. Suas atitudes, por vezes infantis, parecem tentar mascarar a realidade, mas quando esta bate a sua porta, as coisas ficam feias.

 

 

 

O drama, no entanto, é um pequeno contraponto a frases cortantes, divertidas e recheadas de humor inteligente. Há situações impagáveis também como quando ela furta uma escultura da casa do pai, intrigando sua madrasta porre interpretada por uma impagável Olivia Colman (Oscar de melhor atriz por A Favorita). As olhadas cúmplices de Fleabag para a câmera, nos tornando parte das suas mais inconfessáveis atitudes, tornam tudo ainda mais divertido.

 

 

 

Fleabag é, sem dúvida, o suprassumo do humor inteligente na TV neste momento. Corra ver.

 

 

 

 

 

GERAÇÃO Z 2m1l36

Abarcar a complexidade do que é ser adolescente na atualidade não é uma tarefa nem um pouco fácil. A chamada geração z (nascidos, em média, entre meados dos anos 1990 até o início do ano 2010), popularmente chamada de geração Nutella (tão mole quanto o doce) é muito mais que mimimi, baladas e shopping. Se Euphoria não consegue decifrar toda essa complexidade, chega bem perto. Ganha, ao menos, o título de mais honesto retrato dessa geração.

 

 

 

Rue Bennett (a cantora Zandhaya) é o eixo principal da série. Ela luta contra as drogas depois de ter sido internada por ter entrado em coma bem no meio da sala de casa, aterrorizando sua mãe que, agora, vive no seu encalço temendo uma recaída.

 

 

 

Rue, como todos os demais adolescentes da série, tem nas drogas o seu mundo secreto e é capaz de conseguir xixi da amiga careta para provar para a mãe que está limpa. A mãe de Rue, assim como os demais pais da série, teriam um troço se descobrissem o que os filhos fazem longe de suas vistas. É um retrato bastante cru do submundo adolescente.

 

 

 

Os pais superprotegem os filhos que, sob o manto da escola e da total falta de responsabilidade, fazem o que bem entendem.

 

 

 

Jules Vaughn (Hunter Schafer), uma adolescente transexual, melhor amiga de Rue, por quem ela desenvolve um carinho que se sobrepõe a amizade, tem um rosto angelical e o apoio do pai. Na rua, claro, não encara a mesma condescendência. Pulando de quarto em quarto de motel com homens casados em certo ponto da história responde ao ser questionada do porquê se expor dessa maneira: “Não sei, acho que preciso disso pra me sentir viva, sei lá”. Não saber o que os move talvez seja a grande conclusão que a série nos traz sobre a geração Z. 

 

 

 

Nate (Jacob Elordi), por exemplo, não sabe exatamente o porquê, mas apesar de suas inclinações curiosas sobre o mesmo sexo, precisa se firmar como o bad boy pegador da escola. Pressão do pai, que embora viva de aparências esconde desejos sexuais inconfessáveis? Pode ser, mas nada é simplificado em Euphoria. A série respeita a complexidade de uma geração nascida em meio ao caos tecnológico e político, que sabe que um dia precisará sair da bolha de proteção criada pelos pais e que justamente por isso busca viver intensamente, sem preocupações, sem pressões, sem rumo definido.

 

 

 

 

 

 

MUNDOS PARALELOS 4p425b

Não ouça quem assistiu apenas o primeiro episódio de Watchmen, a grande aposta do ano da HBO, entre as tantas que fez na tentativa de consolar os órfãos de Game of Thrones. De fato, o primeiro episódio é ruim. A primeira temporada da série só fica boa mesmo lá pelo terceiro episódio. Os anteriores, no entanto, são fundamentais para entendermos o intrincado quebra-cabeças que é a história.

 

 

 

Baseada em cultuada HQ, imagino que a série fique ainda melhor para quem já era fã dos quadrinhos, o que não é meu caso. A compreensão fica mais difícil, mas não impossível para os não iniciados.

 

 

 

 

Misturando assunto atual como o racismo, aliás, onipresente na história americana (só lá?), a série traz o fantástico para uma história bem realista. A mistura pode parecer esquisita sob um primeiro olhar, mas o roteiro brilhante de Damon Lindelof (de Lost) consegue conciliar os temas com habitual maestria.

 

 

 

A série começa acompanhando Angela, uma ex-policial que, disfarçada, começa a caçar supremacistas brancos e bandidos de outras matizes nas horas vagas. É assim que se depara com um misterioso vovô de cadeira de rodas. Embora inverossímil, ele assume a culpa pelo enforcamento do chefe de Polícia de Tulsa, grande amigo de Angela. Como ele conseguiu? A tentativa de desvendar esse mistério abre para Angela literalmente um mundo novo.

 

 

 

Tulsa, que de fato existe, é uma cidade estadunidense que foi palco de um massacre de negros por parte de supremacistas brancos nos anos 1920. Salto no tempo e policiais estão trabalhando de capuzes, a intolerância racial e contra as forças de segurança parecem cada vez mais perigosas. A cidade se torna o epicentro de várias situações esquisitas como chuvas de moluscos e uma cientista meio doida que ambiciona acumular poderes ilimitados.

 

 

 

Falar mais sobre Watchmen seria estragar as tantas surpresas que a série traz. Se você está cansado dos roteiros convencionais, essa é a série que merece ser assistida.

 





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